
Enquanto as filhas do criador não tiverem seus direitos garantidos ou forem vítimas de violências, o dia internacional da mulher não será uma celebração, mas significará impulsão para luta. E, como povo de fé, não podemos nos acomodar e deixar de lado a pulsão profética. O profeta Isaías, ao ler o seu tempo e perceber as arbitrariedades dos membros da cidade, os quais se escondiam atrás de ritos frios da religião, denunciou: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? [...]quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue [...]”. E com voz estridente ele afirma o que deseja o Deus do Éden: “Aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. Por isso, não podemos descansar enquanto a justiça, desde os salários até o respeito público, seja feita para nossas irmãs!
Temos, minha esposa e eu, uma menininha de quatro anos. Seu sorriso e seu abraço são mais terapêuticos do que qualquer outra expressão de beleza que o mundo possa proporcionar. Ela e todas as meninas precisam viver em um mundo onde seus sonhos não sejam tolhidos por não serem meninos, nem suas intimidades expostas por aqueles que desejam mais uma cena de ridicularização. Precisamos construir um lugar onde ela e as demais poderão ter sua dignidade garantida e não estejam à mercê do vexame cotidiano das piadinhas desumanizadoras. Minha filha e todas as filhas precisam sentir que seus corpos não são objetos e independentemente da cor, classe ou etnia terão igual acesso aos bens que lhe são de direito. Enquanto isso não for garantido, não haveremos de celebrar, mas militar, para a glória Daquele que as criou.
Por aquilo que 8 de março proclama, até que seja realmente um dia de comemoração!