sexta-feira, 14 de maio de 2010

Que venha o centenário da Assembleia de Deus... O que comemoraremos?



Durante as comemorações dos 500 anos da “descoberta” lusitana do Brasil, muitas perguntas me sobrevieram. Entre essas, a mais incomodante e, por sua vez, essencial para aquele momento, foi esta: “comemorar o quê?”. O estupro histórico conceituado como colonialismo? A inglória das ditaduras? A hipocrisia da cultura do “fácil-corrupto-agradável”, materializada desde as microrrelações cotidianas chegando ao nosso circo parlamentar? Na época eram tantos motivos de anticomemoração, que restava unicamente o silêncio e o reconhecimento do opróbrio e vergonha.

Quando me deparo com o que se transformou a Assembleia de Deus, tenho um sentimento parecido. E, ao ler sobre seu centenário sou instigado a fazer uma mesma indagação: O que comemoraremos? A assimilação maligna da lógica egocêntrica, pragmática e dissimulada de nosso tempo? O enrijecimento institucional? E com isso a estagnação obscurantista e o estabelecimento da politicagem fria e dissimulada?

Sei que tivemos muitos momentos honrosos em nossa história, mas não podemos viver do passado. O passado é monumento sinalizador, que perde o sentido de ser quando no presente não sinaliza mais. Não comemoramos somente o passado, mas o que somos depois de toda a caminhada até o hoje. Se no processo muito se perdeu, o passado não se justifica por si mesmo, mas se desfigura e torna-se uma história outra, um objeto não identificado, uma realidade separada, ou seja, passado morto – Não podemos esquecer que no Cristianismo se comemora a ressurreição e a vida e não a morte.

Quando olho nossa bleia, tenho quase que nojo. “Nojo” parece ser um pouco exagerado, mas é a única expressão que me vem na mente quando lembro de nossas Convenções, Congressos (cheios de pregadores bajuladores - um bando de palhaços animadores de público; ver o 1º post nesse blog) e Reuniões Institucionais. Tornou-se insustentável a presença de “pastores-empresários” donos de reinos, mas longe dos interesses do Reino. É quase insuportável olhar calado para nossos supostos líderes, bem arrumados, com ternos finos, gravatas caras e carros invejados, mas com a alma vendida, com intenções sujas e podres, ávidos pelo poder. Eu não aguento mais dar paz (do Senhor), onde o senhor não é Cristo. Não suporto mais abraçar esses seres e chamá-los de irmãos, porque o pai deles não é o Meu.

Cem anos! Meu Deus, cem anos! Cem anos de entropia – não na acumulação de membros e proliferação de templos (nisso a Assembleia cresce muito), mas da vergonha na cara, da piedade, da justiça e da verdade na instituição que fazemos parte. Como gostaria que Deus levantasse outros Oséias, Amós, Miquéias. Como gostaria que Deus colocasse outros Jeremias na frente dos templos para gritarem a todos e todas, sem medo, as mazelas que rodeiam nossa bleia...
Acho ser o mais coerente, antes mesmo de a liderança pensar em festas, buscar, cada um, seu pano de saco e cinzas para lamentarem amargamente pelo que fizeram da Assembleia de Deus. O mais sensato, para todos nós, seria ajoelharmos diante do quadro pintado nesses anos todos e chorarmos por nós e nossos filhos!

Sem isso, tornar-se-á a maior hipocrisia do mundo qualquer união simbólica das comemorações do centenário. Melhor seria a reunião de todos para uma sincera expressão de arrependimento e promessa coletiva de profundas mudanças e transformações.

15 comentários:

  1. Prezado Kenner Terra,

    A Paz do Senhor!

    Parabéns pelo blog!

    Passei a conhecê-lo através do e-mail com a indicação deste artigo. Estou seguindo e já incluí no meu bloglist.

    Quanto ao seu post, é pesado, realista e nos chama para uma profunda reflexão.

    Ainda que a repercursão não seja de forma global, com certeza conduzirá a uma tomada de posição de todos aqueles que tiverem acesso.

    Um grande abraço!
    Pr. Carlos Roberto

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  2. Obrigado Pr. Carlos.

    O Objetivo do texto é exatamente esse. Um pouco pesado, mas sincero...
    um grande abraço

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  3. faço minhas as palavras de Pr. Carlos Roberto;
    que seu post eh pesado, porém realista e com toda a certeza nos leva a uma reflexão.

    Meu pai agora eh blogueiro tbm ... aauahauhauha...em-baixador.blogspot.com ...

    quanto ao mais parabéns

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  4. Olá Sullivan,
    obrigado pela leitura e críticas... É verdade, o que dói leva-nos sempre a reflexões...
    abração

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  5. Não nego, Kenner, que o que você relatou não esteja acontecendo, pelo contrário, é o mal de muitas igrejas atuais, não somente as ADs no Brasil, nem somente nas pentecostais por natureza. O que muito me admira é de considerações como essas partirem de um membro que faz parte do "meio" digamos assim. Ou seja, do ponto e vista de um congregado, de um "convencional" (integrante dessa mesma AD que você critica), mais parece um tiro no pé. Mas parabéns pelas consideraçoes, isso demonstra que as Assembléias de Deus no Brasil respeitam as nossas opiniões, sejam elas quais forem. A paz...(infowebmais.blogspot.com)

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  6. Meu irmão,

    O mundo jaz no maligno. A igreja em geral (claro que existe a minoria excessão) em suas várias vertentes buscam interesses próprios.

    O problema apontado no texto é macro existem muitas coisas que não foram citadas.

    O que mnos resta é esperar ansiosamente a volta de Jesus.

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  7. Chegou o momento. Alguns sentirão a sensação de "engolir a seco", é como o pregador diz "o silencio do auditorio evidencia a culpa dos presentes", e em parte todos o sentimos, não por sermos participantes de acções vergonhosas, mas da extrema e verdadeira sensação de impotência, de uma mordaça que nos é imposta quando usam os textos biblicos para garantir a submissão dos fieis, dos obreiros, mas caro Kener: nao te cales.
    Chega de bajulação, a hora é de asoprar as velas, mas com certeza o tempo da limpeza virá.

    Deus o abençoe.

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  8. Olá InfoWebmais,

    obrigado por tuas considerações. Exatamente por fazer parte penso ser coerente tecer críticas. Como diz Fiorin "os discursos são ações", ações que reproduzem ou criticam outros discursos... Tentei e tento agir e gerar ações/discursos diferentes aos acima citados. Acho que de dentro é que devemos gritar.
    Grande abraço

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  9. Olá anônimo,
    sim jaz... Mas negamos, não aceitamos e combatemos em nome do evangelho tudo que esteja reproduzindo o antievangelho.

    abração

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  10. Olá Ronilson,
    Obrigado pelo comentário. Sim, não calarei... Espero que seja um "não calar" coletivo, vivo, uníssono de todos e todas possuídos pelo Espírito de Yaveh...
    abraço

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  11. Paz do senhor meu irmão. Parabéns pelo artigo que é duro de se ler, mas é a realidade que nos encontramos. Se vc puder leia "10 verdades que pregamos sobre 10 mentiras que praticamos" em meu blog http://bit.ly/blKbIH. Deus abençoe. Já estou seguindo seu blog, se puder siga-me.

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  12. É lamentável por seu posicionamento tão forte, pois esperava que que sendo um membro da AD estivesse preocupado em mudar essa realidade.

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  13. Olá Ezequiel...
    obrigado por sua crítica. No entanto, exatamente por desejar mudanças é que continuo na denominação. Sim, o meu discurso é forte nesse texto. Quando o escrevi, fiz nos arrepios das emoções. Por isso parece ser tão vivo e forte. Não invalido as conquistas da AD, pelo contrário, por serem tão importantes é que precisamos rever o "com" de nossa atual “assembleianidade”.
    Abraço

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  14. Paz! O Wilson me passou o endereço de seu blog e estou gostando muito do que vc tem escrito. Que Deus te ilumine ainda mais e que não sejamos vendedores de ilusões, mas sim, semeadores de esperança. Quero te passar um blog de um amigo e ex-ibadiano também, aluno antes da gente: http://alanbrizotti.blogspot.com/Ele escreve e prega muito também. A média de leitura anual é de 70 livros. Paz e até a proxima! Pr Gilmar Tavares - Anápolis-GO.

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  15. E aí Gilmar...
    Fico feliz por te encontrar aqui. Obrigado. Fico feliz por estar gostando. Sim, entrarei no blog dele.
    grande abraço

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