sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

NATAL


Natal é o Deus que nasce de mulher pobre, em berço não esplêndido e nas extremidades de uma terra sem expressão. Confundem-se as expectativas apoteóticas quando o sinal para seu reconhecimento descredencia a pompa das belas roupas e mostra-se em panos simples. É estranho aos desejosos por poder, quando as primeiras testemunhas e arautos de sua chegada são pastores e ovelhas. O Deus-menino, nas linhas dos evangelhos, não se adéqua às convenções e esperadas feições da chegada de um rei. Pelo contrário, não se preocupa com as muitas honrarias comuns aos monarcas, muito menos faz questão do tumulto e do alarde das trombetas. A sua glória manifesta-se na fragilidade de um bebê.

Interessante como a simplicidade de Belém é presságio das suas futuras decisões. A manjedoura acolheu um Deus que acolheria àqueles sem acolhimento; cedeu espaço ao único imperador que as extensões de suas terras não seriam percebidas pelos vassalos acumulados, mas pelos homens e mulheres que aceitassem um projeto chamado Reino dos Céus.

O nosso Deus não se dá a conhecer com o espetáculo. Pelo contrário, escolhe traduzir a eternidade nas amarras da vida. Eis aí o milagre, o infinito na finitude, o inefável nas teias da linguagem, o imensurável na fronteira humana, o Senhor dos céus e da terra existindo em um menino. 

O anjo, especialista das coisas celestiais, confirma o paradoxo: aquele pequeno ser é o salvador, o Cristo, o Senhor. O coral da eternidade deu as boas-vindas anunciando a paz na terra e o Seu favor para com os homens. O céu e a terra se misturam, fazendo do mundo palco para o encontro da humanidade com a divindade. Assim, na história, Deus se tabernaculou e sua glória foi contemplada.

E o que faremos, pois? Resta-nos tornar nossa vida, escolhas e história uma manjedoura!