segunda-feira, 8 de outubro de 2018

2018: a renovação da política brasileira?



Após os resultados de parte das eleições de 2018, o mote é de renovação política. Realmente, peças antigas foram retiradas do tabuleiro. No senado, das 56 cadeiras em disputa, 46 foram ocupadas por novos personagens – pelo menos novos nesse cargo, porque muitos deles não representam qualquer renovação. Figuras conhecidas como Magno Malta (PR – ES), Eunício Oliveira (MDB – CE), Lindbergh Farias (PT- RJ), Edison Lobão (MDB-MA), Roberto Requião (MDB), Romero Jucá (MDB-RR) amargaram inesperada derrota. Contudo, políticos desgastados como Ciro Nogueira (PP), Humberto Costa (PT) e, especialmente, Renam Calheiros (MDB) continuam cobertos pelo manto da “impunidade parlamentar” e permanecem no senado. Em relação aos partidos, MDB, PSDB e PT, considerados grandes, diminuíram representatividade tanto na Câmara quanto na “casa do Calheiros”. Na outra ponta, o PSL, por exemplo, agora ocupa 4 cadeiras. De certa forma, nomes antigos saíram e outros novos (ou nem tanto) chegaram. Mas nada inesperado, porque se aguardava algum tipo de renovação. E nessa dança das cadeiras, coisas estranhas e deprimentes aconteceram. Em SP, nomes como Alexandre Frota, Arthur “mamãe falei”, Kim Kataguiri e Janaína Paschoal receberam significativa porcentagem dos votos. No mesmo estado, Eduardo Bolsonaro se tornou o candidato a deputado federal mais votado da história do Brasil em números absolutos! Interessante, na eleição anterior os paulistas deram um título parecido ao palhaço Tiririca.

Pensando no quadro pintado na terra da garoa, confesso que fiquei muito frustrado quando li na lista dos eleitos o nome – para citar um (talvez, o mais absurdo) – de Alexandre Frota e, na mesma averiguação, não encontrar Carlos Bezerra Jr. Basta uma olhadinha em sua história e logo entenderá minha estupefação. Como vereador, ele ocupou o 1º lugar no ranking dos vereadores de São Paulo mais bem avaliados pelo levantamento da ONG “Voto Consciente”. Enquanto deputado estadual, foi autor da Lei paulista de Combate ao Trabalho Escravo, garantindo-lhe reconhecimento na ONU e no Ministério Público do Trabalho. O mesmo pastor, que nunca usou desse título para favores políticos, palestrou na Conferência do Alto Comissariado da ONU e, também, no International Bar Association (IBA), maior organização mundial de profissionais da justiça. Para termos ideia, o evento contou com a presença de grandes nomes mundiais da defesa de direitos como Kofi Annam e José Aznar. Ainda, na luta contra a desumanização, no mesmo espírito de Luther King, Wesley e Wilberforce, Bezerra Jr. presidiu a CPI do Trabalho Escravo na Alesp e criticou duramente a proibição da divulgação da chamada “lista suja” com os nomes das empresas flagradas em exploração do trabalho escravo. Além disso, este mesmo político evangélico atuou como principal mediador dos familiares das vítimas das chacinas de Osasco e Barueri. Bezerra Jr. é, também, autor dos Programas Mãe Paulistana e Mãe Paulista, responsáveis pela maior redução nos índices de mortalidade infantil e materna da última década. E não adianta dizer que ele é comunista, esquerdopata, etc., porque sua caminhada se dá no PSDB, contra quem, inclusive, por ocasião da crise política no Brasil, posicionou-se pedindo a saída do governo.

Minha consternação é especialmente com o eleitorado evangélico. Explico. Sou duro crítico ao “crente vota em crente”, mas se para alguns irmãos essa é a lógica, por que não a aplicaram ao Bezerra Jr.? Defesa por direitos e luta por justiça não importam? Simples, ele levou a sério a vocação pública da fé protestante, militou por princípios realmente dignos da tradição bíblica, não se vendeu para a bancada evangélica (uma vergonha nacional) e nem ao míope interesse de alguns líderes da igreja em SP.

Por isso, observando a conjuntura, sou obrigado a acreditar que SP é um espelho perigoso do Brasil e dos evangélicos brasileiros, marcado por analfabetismo político e sérios problemas teológicos. Mas como nem tudo é tragédia, podemos olhar aliviados para o Maranhão, estado com grande número de evangélicos (especialmente pentecostais), onde mais uma oligarquia, a família Sarney, foi derrotada. O povo maranhense viu Flavio Dino (PC do B) implantar projetos de saneamento básico, benefícios fiscais razoáveis, políticas de redução de mortalidade infantil, valorização salarial dos profissionais da educação e entendeu, comprovando com o voto, que políticas púbicas e desenvolvimento, olhando sensivelmente para os mais fragilizados, são indissociáveis.

E em relação à eleição para a presidência, segue minha opinião: “Pagaremos caro, com juros históricos, por nossa estupidez”!