sábado, 7 de julho de 2018

CRIVELLA E A IRRESPONSÁVEL REUNIÃO COM PASTORES


Na última quarta-feira, o prefeito do Rio de Janeiro convidou pastores para uma reunião na qual apresentou benefícios públicos que seu governo disponibilizará, tais quais cirurgias de cataratas e varizes. Na mesma lista de benesses, relembrou a imunidade tributária para “Templos de qualquer culto” – mesmo que em sua fala o termo “qualquer culto” tornou-se “igreja” –, garantiu quebra-molas em frente dos templos evangélicos e pontos de ônibus nas proximidades das igrejas, os quais ajudariam na chegada aos cultos. E mais, ofereceu a disponibilidade dos assessores “Márcia” (?) e “Dr. Milton” (?) para o auxílio do acesso a esses benefícios. Ao encontro, o prefeito deu o nome de “café da comunhão” e conseguiu reunir 250 ministros do evangelho. Quando questionado, sua assessoria justificou dizendo ser uma prática comum, porque o prefeito “recebeu os mais diversos representantes da sociedade civil, para tratar dos mais variados assuntos, tanto em seu gabinete quanto no Palácio da Cidade”. No entanto, como justificar a presença, no mesmo contexto, do pré-candidato pelo PRB, Rubens Teixeira, a quem, segundo reportagens, Crivella exaltou diante de todos? Desculpe-me, mas isso é no mínimo irresponsável! Que tipo de comunhão é essa? Avalie bem o quadro. O prefeito, que é bispo licenciado da Igreja Universal, oferece benefícios públicos para um grupo de pastores, ao lado de um pré-candidato (antes do tempo permitido pelo TRE), em reunião “às escondidas”. Estranho ou não?

Não é por essa via que nós pastores e comunidades cristãs deveríamos nos envolver na arena pública brasileira. Esse tipo de mecanismo é a pior face da presença política dos evangélicos em nosso país. Mesmo que estivesse divulgando programas e benefícios, não seria em uma reunião com pastores o melhor lugar. Nas entrelinhas, o prefeito da cidade estava, com representantes do evangelho, trocando votos e apoio por auxílios públicos e voluntariedade política. Lembrou-me a antiga lógica do tijolo pelo voto sob a égide sagrada do “crente vota em crente”. Leia esta frase lançada na reunião e avalie: “vamos aproveitar esse tempo que nós estamos na prefeitura para arrumarmos nossas igrejas”. Que isso, corporativismo evangélico? Sei dos direitos da Igreja, mas aqui temos outra coisa!

É comum entre colegas pastores a ideia de que ser convidado por lideranças políticas significa reconhecimento ministerial ou honra. Talvez, essas tenham sido as motivações que impulsionaram o comparecimento na reunião. Contudo, nós pastores precisamos entender que políticos demonstram reconhecimento ministerial quando cumprem, honesta e responsavelmente, sua função de representantes do povo e não ao auxiliarem um grupo específico. Eles estarão honrando nossa mensagem ou serviço não com placas ou ajudas pessoais, mas ao usarem com equidade e inteligência os bens públicos, a ponto de melhorarem a vida da população. Por outro lado, precisamos entender, de uma vez por todas, que os políticos identificados como evangélicos cumprirão seu papel de representantes da fé cristã na política partidária não por beneficiarem suas igrejas locais, mas ao serem bons gestores públicos e agirem pela causa do povo, especialmente os mais fragilizados. O prefeito da cidade não demonstrará ser amigo dos pastores por colocar quebra-molas na frente das igrejas, mas organizando a mobilidade pública do município. Não é oferecendo lobby na saúde pública aos pastores que Crivella provará sua parceria com as igrejas, mas apresentando programas relevantes que melhorem e fortaleçam esse setor tão sucateado e ofereça soluções reais ao povo.

O Rio de Janeiro vive crises em diversos setores e depende da sensatez e boa vontade de seus representantes. Os pastores, por sua vez, como vocacionados no Reino deveriam se preocupar menos com o IPTU das igrejas e mais com a cidade; precisariam disponibilizar menos sua representatividade para propósitos personalistas e mais aos interesses populares. Por isso, essa reunião foi infeliz e todos os presentes, enganados ou desinformados, tornaram-se cúmplices de crime eleitoral e de má administração pública, se deixaram usar por interesses políticos e se permitiram contracenar uma peça infame e ridícula.

No final do “café da comunhão", anunciaram outro encontro do mesmo tipo. Espero, de verdade, que para esse não tenha quórum.