NATAL
Natal é o Deus que nasce de mulher pobre, em berço não
esplêndido e nas extremidades de uma terra sem expressão. Confundem-se
as expectativas apoteóticas quando o
sinal para seu reconhecimento descredencia a pompa das belas roupas e
mostra-se em panos simples. É estranho aos desejosos por poder, quando
as primeiras testemunhas e arautos de sua chegada são pastores e
ovelhas. O Deus-menino, nas linhas dos evangelhos, não se adéqua às
convenções e esperadas feições da chegada de um rei. Pelo contrário, não
se preocupa com as muitas honrarias comuns aos monarcas, muito menos
faz questão do tumulto e do alarde das trombetas. A sua glória
manifesta-se na fragilidade de um bebê.
Interessante como a simplicidade de Belém é presságio das suas futuras
decisões. A manjedoura acolheu um Deus que acolheria àqueles sem
acolhimento; cedeu espaço ao único imperador que as extensões de suas
terras não seriam percebidas pelos vassalos acumulados, mas pelos homens
e mulheres que aceitassem um projeto chamado Reino dos Céus.
O
nosso Deus não se dá a conhecer com o espetáculo. Pelo contrário,
escolhe traduzir a eternidade nas amarras da vida. Eis aí o milagre, o
infinito na finitude, o inefável nas teias da linguagem, o imensurável
na fronteira humana, o Senhor dos céus e da terra existindo em um
menino.
O anjo, especialista das coisas celestiais, confirma o
paradoxo: aquele pequeno ser é o salvador, o Cristo, o Senhor. O coral
da eternidade deu as boas-vindas anunciando a paz na terra e o Seu favor
para com os homens. O céu e a terra se misturam, fazendo do mundo palco
para o encontro da humanidade com a divindade. Assim, na história, Deus
se tabernaculou e sua glória foi contemplada.
E o que faremos, pois? Resta-nos tornar nossa vida, escolhas e história uma manjedoura!
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