Como bem sabemos, a
Bíblia assim como é formada por diversos livros, também o é por variados e
divergentes pontos de vista, às vezes até mesmo sobre o mesmo assunto. Isso não deve nos surpreender. Como Palavra
de Deus intermediada por palavra de homem carrega as idiossincrasias de seus
respectivos contextos e experiências. Um exemplo desta variação de perspectivas
encontra-se no “como” dois textos interpretam um momento do povo de Judá. Refiro-me
a Jr 39-40 e Lm 5 a respeito da realidade dos que ficaram na terra depois da
segunda deportação para Babilônia e sobre a “reforma agrária” no período da
liderança de Godolias, antes da terceira intervenção de Nabucodonosor.
Vou explicar o contexto
disso em poucas linhas. O exílio na Babilônia ocorreu depois das investidas de
Nabucodonosor, quando alguns da elite e da aristocracia foram levados para as regiões
da Mesopotâmia. Nesta ocasião, os mais pobres e as pequenas famílias camponesas
permaneceram na devastada terra de Judá. Estes – chamados de “pobres da terra”
(2 Rs 24,14) que permaneceram em Jerusalém – foram beneficiados com doações de terras
(Jr 39,10; cf. também 2Rs 25,12). Isso foi muito significativo, pois desde o
séc. VIII a.C tanto o norte como o sul foram marcados por crescente
concentração de terras para uns; endividamento, perda de propriedades (terra) e
liberdade pessoal (escravidão) para outros. Esse é o quadro pintado por Jr
34,8-22 a respeito de alguns israelitas, os quais são os mesmos que
permaneceram na terra, mencionados em Jr 39, 10, no período da intervenção
babilônica. Estes pobres da terra, na ocasião da deportação receberam as terras
que pertenciam à elite deportada, da qual eram escravos e para a qual perderam
suas propriedades em tempos anteriores. No livro de Ageu, em certo nível,
encontraremos reflexos das divergências dos grupos que permaneceram e a antiga
elite judaíta deportada.
A primeira investida babilônica ocorreu em 597 a.C, quando foram levados parte do povo e Joaquim, filho de Jeoaquim (que morre pouco tempo antes da primeira deportação) (2 Rs 24,4-6), ficando como rei Zedequias, tio de Joaquim. Quase dez anos depois, Zedequias ensaia um levante contra o domínio de Nabucodonosor. A consequência imediata foi outra intervenção babilônica, depois de um demorado cerco à cidade. Na ocasião o templo e cidade foram destruídos e outra parte da elite e artesãos deportados (2Rs 25, 1-21; Jr 39, 1-10; 52,1-27). Segundo Jr 50,30, uma terceira deportação aconteceu no ano 582 a.C. Em termos gerais, por Judá ser um lugar estratégico, a associação com o Egito e sua resistência, a invasão babilônica tornou-se inevitável.
Os capítulos 39 e 40 de Jeremias é uma descrição da realidade do povo que ficou na terra, os mesmos pobres oprimidos durante um bom tempo pela elite agora deportada. Em 39,10 ele fala das terras que foram doadas para este pequeno campesinato; uma espécie de reforma agrária. A elite estava longe e as terras deixaram de pertencer a esta classe favorecida. A imagem dada pelo profeta é de abundância (Jr 40,12) e cheia de esperança de recomeço (Jr 40,9). Como diz Kessler: “O tempo do domínio babilônico sobre Judá é um tempo em que aqueles que durante a monarquia concentravam muitas propriedades agora as perderam parcial ou totalmente. Estas terras são apropriadas por aqueles que em outros tempos as perderam para os poderosos (...)”[1]. É o tempo da divisão e libertação para os que viviam com muito pouco. Os “pobres da terra” agora podem se regozijar; comer do fruto da terra, beber do vinho da vide! (Jr 40,10).
Contudo, o livro de Lamentações, que também interpreta o mesmo momento, parece não gostar muito deste negócio de terra para pobres. Como diz Lm 5,2: “nossa herança foi entregue a estranhos, nossas casas, a estrangeiros”. O que Jeremias chama de reforma agrária (39, 10), Lamentações vê como terra na mão de estrangeiros. Para um grupo a redistribuição de terra é uma implantação da justiça (Jeremias), enquanto para outro é desapropriação (Lm 5). Os pobres no comando para este é liderança de escravos (Lm5,8).
A primeira investida babilônica ocorreu em 597 a.C, quando foram levados parte do povo e Joaquim, filho de Jeoaquim (que morre pouco tempo antes da primeira deportação) (2 Rs 24,4-6), ficando como rei Zedequias, tio de Joaquim. Quase dez anos depois, Zedequias ensaia um levante contra o domínio de Nabucodonosor. A consequência imediata foi outra intervenção babilônica, depois de um demorado cerco à cidade. Na ocasião o templo e cidade foram destruídos e outra parte da elite e artesãos deportados (2Rs 25, 1-21; Jr 39, 1-10; 52,1-27). Segundo Jr 50,30, uma terceira deportação aconteceu no ano 582 a.C. Em termos gerais, por Judá ser um lugar estratégico, a associação com o Egito e sua resistência, a invasão babilônica tornou-se inevitável.
Os capítulos 39 e 40 de Jeremias é uma descrição da realidade do povo que ficou na terra, os mesmos pobres oprimidos durante um bom tempo pela elite agora deportada. Em 39,10 ele fala das terras que foram doadas para este pequeno campesinato; uma espécie de reforma agrária. A elite estava longe e as terras deixaram de pertencer a esta classe favorecida. A imagem dada pelo profeta é de abundância (Jr 40,12) e cheia de esperança de recomeço (Jr 40,9). Como diz Kessler: “O tempo do domínio babilônico sobre Judá é um tempo em que aqueles que durante a monarquia concentravam muitas propriedades agora as perderam parcial ou totalmente. Estas terras são apropriadas por aqueles que em outros tempos as perderam para os poderosos (...)”[1]. É o tempo da divisão e libertação para os que viviam com muito pouco. Os “pobres da terra” agora podem se regozijar; comer do fruto da terra, beber do vinho da vide! (Jr 40,10).
Contudo, o livro de Lamentações, que também interpreta o mesmo momento, parece não gostar muito deste negócio de terra para pobres. Como diz Lm 5,2: “nossa herança foi entregue a estranhos, nossas casas, a estrangeiros”. O que Jeremias chama de reforma agrária (39, 10), Lamentações vê como terra na mão de estrangeiros. Para um grupo a redistribuição de terra é uma implantação da justiça (Jeremias), enquanto para outro é desapropriação (Lm 5). Os pobres no comando para este é liderança de escravos (Lm5,8).
Talvez Lamentações represente
a voz dos que perderam as terras. Mas isso não deve nos assustar; pelo menos a
mim não assusta. Sempre será assim, pobre quando alcança seus direitos é motivo
de açoites, verbais ou físicos; mas quando ricos enche-se e transbordam é oportunidade
de propaganda. Mas, um dia é da caça e outro do caçador; um dia é dos
poderosos, mas chegará também o dos pequeninos, os “pobres da terra”. Como
devemos interpretar nossos “povos da terra” hoje em dia? Como Lamentações ou
Jeremias? Que digam os grandes latifundiários; que digam os Sem Terra.
Olá meus queridos irmãos. Paz e graça de Jesus.
ResponderExcluirParabéns pelo blog muito edificante. Eu acredito que; crescemos quando lemos, quando compartilhamos. Aprendendo uns com os outros, crescemos na graça e conhecimento da Palavra.
Aproveito a oportunidade para compartilhar também meu blog. Contém ensinos, de crescimento, edificação e exortação, muitos poemas e algumas músicas tudo dentro do carisma evangélico.
Ficarei feliz por vossa visita e muito mais ainda se nos seguir.
Que Deus continue a abençoar-vos ricamente. Antonio Batalha.