sábado, 1 de setembro de 2018

Por que um cristão, especialmente evangélico, não deveria votar em Jair Bolsonaro?


Por que um cristão, especialmente evangélico, não deveria votar em Jair Bolsonaro?
O post pretende apresentar apontamentos diretos e objetivos com o intuito de ajudar na reflexão. Algumas explicações: a. são razões a partir do lugar da fé evangélica; b. não indico qualquer candidato/a específico/a, mas desestimulo o voto ao citado presidenciável. Ou seja, a ponderação é sobre em quem, entendo, NÃO deveríamos votar.
Comecemos:
1. A tradição protestante é historicamente ligada à formação do Estado Democrático de Direito. Para o surgimento da Modernidade, entre tantas outras coisas, a Reforma e seus desdobramentos foram fundamentais. Por isso, quaisquer discurso ou propostas políticas que insinuem perda de liberdade democrática, como ditaduras ou sistemas autocráticos, são totalmente contrários ao espírito da Reforma ou princípio protestante. Logo, as falas, honrarias a regimes e alguns personagens exaltados por Bolsonaro ferem a história do Protestantismo. Ainda nesse ponto, a maneira como o deputado, mesmo não sendo evangélico, pronuncia-se em relação a posições morais e religiosas sob as quais o seu governo se pautará, também, fere a separação radical entre Igreja e Estado como defendida historicamente pela tradição protestante. A eficiência de um político cristão, nesse sentido, não pode ser medida segundo sua defesa ou não de pontos como direitos homoafetivos, descriminalização do aborto ou qualquer outra questão de disputa na arena pública, mas à luz da sua capacidade de liderar com justiça, sabedoria, solidarização dos acessos e inteligência econômico-política, representando o povo e cumprindo sua obrigação nos limites do cargo (não há na democracia lugar messiânico, mas funções no Estado Democrático de Direito) para o bem comum e não em favor de um grupo específico – a igreja não precisa das benesses do Estado para sua sobrevivência. Cuidado: não podemos esquecer, ao discutirmos sobre família etc., que a Bíblia nunca exortou a respeito da falta de auxílio governamental para sua presença testemunhal no mundo, mas denuncia a respeito da mudança “para outro evangelho” (Gl 1.7).
2. Seguindo, não seria recomendável votar no presidenciável citado porque defende, mesmo indicando trâmites na distribuição, o armamento da população. A fé cristã não é compatível ao uso de armas de fogo geradoras de morte. Não cremos que seja a violência o caminho rumo à proteção do cidadão e para a paz social. O uso de armas significa a aplicação de violência em casos de conflitos e descontrole emocional. O armamento, e tudo o que ele representa, é radicalmente contrário à proposta do Evangelho. Mt 5.9 diz serem bem-aventurados os pacificadores.
3. A Bíblia mostra-nos em diversos pontos que a principal lei é o amor, o qual não está desassociado da justiça. Isso delimita as fronteiras da interpretação do cristão em relação ao seu voto. Bolsonaro tem uma postura extremamente violenta e seus discursos são, no mínimo, contrários às orientações cristãs. Por várias vezes, mostrou-se violento em relação às mulheres, homossexuais e outras minorias. Para quem já acompanhou pastoralmente pessoas homoafetivas sabe que respostas como “ter filho gay é falta de porrada”, usada por Bolsonaro, representam total desconhecimento. E, além disso, revela insensibilidade às famílias e pessoas com as quais caminhamos em nossas comunidades. Falas como essas representam, sim!, posturas homofóbicas. Mesmo os que discordam das práticas homossexuais devem, no mínimo, escandalizar-se com esse tipo de pronunciamento. O presidente sob o paradigma do Estado Democrático de Direito precisa governar para todos e lhes garantir seus direitos – esse princípio é profundamente protestante/evangélico.
              3.1. Ao lembrar as memórias de figuras como Ustra, o candidato filia seu discurso a pessoas que usaram a morte e tortura como meios de aplicação da justiça. Isso demonstra total incompatibilidade com as intuições do Evangelho. Ainda, a justiça e a equidade são dois princípios fundamentais no horizonte delineado por Jesus. Conseguintemente, uma nação que estatisticamente tem alto índice de violência doméstica, feminicídio, assassinato de homens e mulheres por causa de sua orientação sexual, onde o racismo não está erradicado, a pobreza é fruto de profunda injustiça e em um país cuja distribuição (renda, terra, moradia) é pecaminosamente desleal, as falas do candidato mostram-se insensíveis e, por vezes, legitimadoras. Observando os profetas do AT e as escolhas de Jesus, percebemos o gritante descompasso entre as perspectivas do presidenciável aqui citado e a fé cristã. Além disso, o Evangelho mostra-se como defensor da vida e é base, mesmo que indiretamente, para diversas proteções individuais previstas entre os Direitos Humanos. Por isso, não podemos compactuar com qualquer candidato que carregue ideias de morte ou punição fatal. Assim, precisamos avaliar e escolher pelo/a candidato/a com propostas de políticas públicas razoáveis para a segurança (superando à ideia superficial e pecaminosa de morte), o que significaria agir contra o pecado das estruturas. Não é compatível ao seguidor de Cristo achar normal um candidato usar as expressões e posturas violentas como as instrumentalizadas pelo deputado Bolsonaro e continuar tendo-o como opção.
                   3.2. A teologia da graça permite pensarmos uma sociedade vinculada a relações não somente meritórias, mas vislumbra horizonte nos quais terra, casa, saúde, educação e outros direitos são partilhados aos incapazes, ou seja, aos brasileiros/as sem “méritos” econômicos. Qualquer projeto político estabelecido sob bases não comunitárias e “graciosas” será anticristão.
4. Não podemos votar em candidatos com indícios de problemas éticos. Mesmo defendido por seus seguidores como político honesto e irrepreensível, suas relações com políticos marcados pela corrupção (Cunha e outros), o uso (“para comer gente” – palavras dele) do auxílio moradia e a possível utilização de assessoria fantasma balançam essa certeza e deveriam gerar desconfiança e crítica nos seguidores de Jesus. Além disso, percebemos nos pronunciamentos do candidato mudanças substanciais, beirando a instabilidade ou falta de consistência. Em relação aos poucos pontos econômicos e políticos por ele defendidos, notoriamente aparenta falta de coerência.
5. A Bíblia fala em governantes sábios, os quais possam liderar com temor e capacidade. Bolsonaro, mesmo depois de 27 anos na câmara, não se informou das questões básicas relacionadas à economia, desenvolvimento, dinâmica do sistema de governos etc. Ele representa o despreparo e a total falta de saber em relação aos pontos essenciais do funcionamento político-econômico do país. Mesmo com anos de mandato não demonstrou qualquer relevância. Por isso, as incapacidades teóricas e práticas desqualificam-no como possível governante à luz das expectativas bíblicas.
               5.1 Seus votos como deputado também denunciam claro despreparo e falta de consistência: votou contra o plano real, contra o projeto de proibição de nepotismo no setor público, votou contra o projeto de teto salarial no setor público, votou contra o projeto para o fim da aposentadoria especial dos senadores e deputados, votou contra o projeto que daria fim à pensão para filhos de militares, votou contra o fundo de combate à pobreza e a favor do aumento do salário dos deputados e senadores. Sobre essa história parlamentar se estabelece o perfil político desse presidenciável e, naturalmente, impede a escolha dos seguidores do Cristo por esse tipo de político.
Assim, à luz dos argumentos acima, sinto-me, como seguidor do Evangelho e pastor, impossibilitado de votar em Jair Bolsonaro.

12 comentários:

  1. Ótimo texto Pastor. ComcordC plenamente

    ResponderExcluir
  2. vou repassar esta carta. obrigada meu irmão.

    ResponderExcluir
  3. Boa Kenner Parabéns tá representando muito bem

    ResponderExcluir
  4. Ainda sim acredito que a melhor opção é o Bolsonaro , pode não ser a solução mas no momento que nosso país se encontra é o.melhor candidato, precisamos de alguém como ele agora.

    ResponderExcluir
  5. Tem um rapaz chamado Pb. José Roberto Rocha. Ele, há alguns anos, tem escrito coisas aqui no Blog, por vezes ofensivas e desrespeitosas. Ser contrário não é problema, ideias devem ser postas em discussão. No entanto, exige-se um mínimo de civilidade para o diálogo, o que esse senhor, que usa a credencial "Pb" na frente do nome, não tem. Por isso, caso você queira dialogar aqui, antes de escrever, respire fundo, preserve o equilíbrio e depois envie sua contribuição. Tente esse exercício, talvez isso te ajude a se pronunciar com indício de quem realmente conheça o sentido de ter "Pb" na apresentação pessoal.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. " Com cordo plenamente Pastor, o senhor tem toda razão, pois tbm infelizmente nem todos levam a palavra de Deus ao pe da letra, devemos saber respeitar todos

      Excluir
  6. Concordaria em com o seu texto se não fosse algumas ressalvas que para mim, fazem toda a diferença: 1) Levando em consideração que um candidato será eleito, quase todos os itens demonstrados no seu texto se aplicam aos demais candidatos, que em alguns casos são tão ou mais anti-cristãos que o proprio candidato da sua anti-campanha. 2) A imagem apresentada aqui do citado candidato não é a real, nem isenta do seu nitido viés ideologico, pois reflete o Bolsonaro da Globo, ou o da propaganda do Alkimin, talvez sem essas lentes, seja possivel enchergar o ser humano Bolsonaro, que longe da perfeição, supera em muito seus oponentes em questões de corrupção e associação com o corporativismo politico da qual somos reféns. Caberia alguns outros itens aqui, porém ja me estendi demais. Paz a todos, um abraço.

    ResponderExcluir
  7. Pergunto-me: o que o Cristão deve fazer para evitar a continuidade de uma ideologia que fere frontalmente os princípios bíblicos e desconsidera a existência de nosso Deus Soberano, como o PT e comparsas?
    Falar em não votar no unico, hoje, com capacidade de descontinuar essa ideologia absurda pregada hoje, é, no minimo, preocupante. Se Bolsonaro não vencer, o PT continuará. Deus é Misericordioso para não permitir isso. Não estou dizendo que Bolsonaro é o salvador da pátria, mas tb questionar sua capacidade, é de longe, esquecer que colocaram no poder um homem inculto, analfabeto, com muito menos preparo, e que ainda fez um importante desserviço ao trazer à sociedade ideias tão contrarias aos princípios bíblicos.
    Que Deus oriente cada filho e filha. Mas, lembro-nos, que precisamos de líderes que temam a Dwus, não que O afrontem, como Lula fez.

    ResponderExcluir
  8. Faço as minhas palavras as da Adriana Oliveira... excelente argumentação!

    ResponderExcluir
  9. Nao acredito em um homem que inferioriza negros, mulheres e gays... Isso nao é biblico e nem fake! São muitos os juízes, mas poucos pescadores de almas atualmente.

    ResponderExcluir
  10. Excelente reflexão, muito bom seus argumentos.

    ResponderExcluir