sábado, 24 de dezembro de 2011

O homem/Deus feito, nasceu!

                                                                                                                   
                                                                                          Giambattista Tiepolo, “Natividade", 1732


Ele foi gerado através da convocação da menina-mulher pobre, dos cantões da palestina, uma nordestina, esposa do calejado José. Como em um milagre cósmico, foram deixadas de lado as convenções das fronteiras carne/espírito, natural/humano, tempo/eternidade, invadidas sem preconceito em uma interrelação/inter-penetração do mistério, que somente Saramago soube explicar em detalhes. José, o carpinteiro, acostumado com a lida, conhecedor da arte da madeira, criador platônico da réplica do real, não soube resolver racionalmente a questão de ‘“mulé” moça gerar filho’. Somente anjo para explicar e sonho para acalmar os ânimos do humilde trabalhador: “calma José Severino, é do Espírito Santo, contato íntimo do céu, relação santa, salvador do pecado, é Emanuel, coisa do Deus-conosco ”. Estava claro, o Senhor que “dissipou os soberbos no pensamento de seu coração, depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes, deu fartura aos famintos e despediu vazios os ricos” estava por trás daquilo.

O anjo, que talvez seja torto como o que falou com Drummond, disse que ele seria grande, filho do Altíssimo, dono do trono de Davi! Esquisito isso para alguém que nasceu no cocho entre os farelos de equinos e bovinos. Estranho para alguém que é testemunhado por criadores de ovelhas, e que em outras situações nãos seriam ouvidos. Até magos, mais parecidos com forasteiros, deixaram seus presentes, como se deles precisasse.

O belemita de Nazaré, Jesus filho de carpinteiro, anunciado pelo profeta das roupas extravagantes de pele de camelo e comedor de gafanhotos, desde seu nascimento já deu indícios dos passos futuros. Não estaria em palácios, não faria pactos com o mercado, e muito menos com Herodes. Pelo contrário, escolheria os mesmos ambientes de suas origens, onde estavam os calejados, os pobres e desumanizados. O Jesus que hoje cantamos em coros natalinos, nem no templo se sentia em paz, pois lá também não estavam seus pares de natalidade.

Não nos enganemos com leituras precipitadas, a grandeza ele revelou entre os sem-grandezas, e o trono estabeleceu nas esquinas onde estavam os sem-impérios; seus súditos não se prostravam diante dele, mas tinham suas chagas saradas, suas sujeiras limpas e seus pés lavados.

Feliz Natal. O homem feito Deus nasceu. Mas nasceu na estrebaria, filho de trabalhadores diaristas. Encontremo-nos com ele entre vacas e bois, entre ração e pasto, entre os pobres e desamparados, aonde o Papai Noel não vai e os interessados pelo poder mercadológico do menino prodígio nunca estarão (Mt 25, 37-45).

4 comentários:

  1. E a esse Jesus Deus o fez o Cristo | Atos 2,36

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  2. Visitei seu blog, e dou-lhe os parabéns. Gostava que fizesse parte dos meus amigos na Verdade Que Liberta, se seguir meu blog siga de forma a que eu possa seguir também o seu blog. Desejo para si e para seus familiares um Ano-Novo cheio de saúde e união na graça de Jesus. Um abraço.

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