quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Pela Democracia. Pela Nação. Pelos 501 anos da Reforma


A vitória do Bolsonaro foi conquistada democraticamente. E se desejamos preservar e respeitar o Estado Democrático de Direito, precisamos nos dobrar, sob a égide da Constituição, à vontade do povo, porque dele deve emanar o poder, sempre! Pronto, isso agora nos convoca a atitudes democráticas, tanto dos eleitores como não eleitores do novo presidente – confesso que meu olhar para essa reflexão aponta em especial às comunidades de fé, pois é o lugar de onde falo.

Antes de qualquer coisa, é urgente evitar qualquer atitude idólatra. A aceitação acrítica das propostas, movimentos e interpretação da realidade de qualquer projeto político é idolatria, porque acaba dando valor eterno a poderes históricos. Por isso, espero que os seguidores de Cristo, especialmente os pastores que o apoiaram e estão por perto, sejam capazes de vencer o vislumbre ou interesses pessoais e façam a devida e democrática oposição a qualquer sinal de prejuízo coletivo, políticas equivocadas ou ataque à democracia.

Os eleitores que deram seu voto de confiança ao vitorioso presidenciável não podem deixar a alegria da conquista cegá-los diante de ações suspeitas. E pelo visto, já estamos acompanhando algumas articulações preocupantes. Entre elas podemos citar a possível presença de Alberto Fraga no gabinete em 2019. Esse deputado do DF foi condenado em primeira instância a quatro anos, dois meses e 20 dias de prisão, em regime semiaberto, sob a acusação de pedir 350 mil reais em propina a cooperativas de transporte, em 2008, quando era secretário de transportes do governo José Roberto Arruda. Esse mesmo levou outros 30 parlamentares que poderão apoiar o afrouxamento do Estatuto do Desarmamento. O nome disso é toma lá da cá! Outro nome citado, esse para a casa civil, é Onyx Lorenzoni, também do DEM. Ano passado Lorenzoni admitiu ter recebido dinheiro para caixa 2 da JBS. O que o uniu a Bolso foi seu posicionamento a respeito da revogação do mesmo Estatuto. Tanto na relação com este como com aquele, o futuro presidente coloca em primeiro lugar o apoio à revogação da lei do desarmamento em detrimento do histórico político. Será que ninguém está vendo que isso pode significar o mesmo erro do PT? Já se ventila na câmara a troca de apoio entre Bolso e Rodrigo Maia (DEM) tendo como moedas de troca a presidência da câmara e a mesma flexibilização do Estatuto do Desarmamento. Não podemos permanecer achando que corrupção foi inventada por membros do PT. Esse tipo de ideia isenta os demais partidos de suas responsabilidades.

Outro movimento que precisa ser observado com muito cuidado por todos é a proposta da fundição do Ministério da Agricultura com o Meio Ambiente. Essa ação pode se tornar um grande equívoco para toda a nação, porque, por um lado, obrigaria alguns países importantes e grandes parceiros do Brasil deixarem de comprar nossos produtos por conta de seus compromissos internacionais e, por outro, colocaria sob os interesses irresponsáveis do agronegócio políticas públicas para o meio ambiente, o que ameaçaria instituições e políticas públicas que guardam as riquezas naturais do país, base da qualidade de vida e desenvolvimento econômico. Até mesmo grupos ligados ao agronegócio estão preocupados com essa possibilidade. Além disso, a democracia precisa da oposição partidária que seja voz de limite e crítica. Por isso, o discurso de que quem critica é “comunista” precisa dar lugar ao saudável e necessário contraditório, sem estigmatizarão ou pechas precipitadas.

Em especial aos pastores que estão lado a lado do Bolsonaro e conhecem bem a tradição protestante, desejo que não percam de vista a transitoriedade de qualquer governo. Sejam consultores da sabedoria, amabilidade, preservação da pluralidade e responsabilidade nos discursos. Já que ele tem falado tanto em Deus e sua vontade, sejam sempre possibilidades de conselhos sensatos em relação às suas políticas públicas. Não o deixem, sem que ouça de vocês uma mínima exortação à luz do Evangelho, tomar decisões que firam os mais necessitados ou beneficiem somente um grupo ou classe. Em algumas de suas falas ele demonstrou muita insensibilidade a violências estatisticamente comprovadas. Sejam, já que estão tão próximos, iluminação coerente a respeito desse risco. Sei que durante a campanha muitos dos colegas pastores apoiaram-no, de perto e de longe, por encontrarem nele um defensor da família. Sempre entendi essa leitura por temerem algum tipo de imposição de agendas nas escolas e às crianças. Contudo, sejam sensatos e olhem sempre com muita acuracidade cada discussão sobre esses temas para haver razoabilidade e não excessos, o que poderia gerar um tipo de “caças às bruxas” ou maior intolerância em nome da preservação de uma perspectiva de sexualidade. Ainda aos pastores, levando em consideração nossa tradição protestante, tenham o equilíbrio necessário para não diluírem a separação fundamental entre Igreja-Estado em nome da moral e bons costumes, porque vocês devem ser antes aptos para proclamar e ensinar sobre esses princípios do que os impor via Estado.

Por fim, não podemos deixar, principalmente nós protestantes que carregam as memórias de 501 anos, de nenhuma forma, qualquer projeto político retalhar, fatiar, retroceder, diminuir ou desqualificar direitos adquiridos em nossa recente democracia. Espero que sejamos capazes de unir o Brasil e agora olharmos para frente sonhando juntos por uma nação para todos e todas.

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