terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Morre o Teólogo Dom Robinson Cavalcanti

Ontem, segunda-feira (27/02/2012), recebi uma ligação do meu amigo Rainerson Israel, por quem fui informado da morte de Dom Robinson Cavalcanti. E nas palavras do meu amigo minero, “de maneira inacreditável, foi esfaqueado pelo seu filho adotivo!”. Não o conhecia pessoalmente – como estudante de teologia li alguns de seus livros e artigos –,mas na hora em que ouvi a notícia, fiquei atônito e perplexo, pois se tratava da morte de um pai e de uma mãe pelas mãos do próprio filho.

Pela incoerência da vida, uma pessoa que marcou sua história defendendo-a, na contra mão do sistema que tolhe os bens necessários e de direito a alguns e sobeja a outros, despede-se dela de forma, no mínimo, inexplicável; não que a morte seja em alguma instância razoável, mas sempre esperamos que a partida seja de outra maneira. Como diria o poeta, “é tão estranho os bons morrem jovens”. Robinson Cavalcanti, pelo que representa para teologia brasileira, seria sempre jovem...
Basta-nos agora simplesmente silenciar frente o absurdo, chorar a morte injustiça e violenta do justo, render as devidas homenagens e lembrar-se de sua militância para torná-la modelo de ação. Revisitemos seus discursos, seus textos e suas obras para torná-lo sempre vivo.
Robinson Cavalcanti sempre se arriscou por suas escolhas, e por aqueles que não poderiam lhe dar nada em troca. Sua morte é a prova de que amar é sempre arriscado, e às vezes nem a gratidão terá como resposta. Contudo, escolheu pelo amor, mesmo correndo o perigoso de entrega-se ao outro sem a garantia de retribuição à altura, e que às vezes responde com apunhaladas. No entanto, se pudesse nos deixar uma mensagem póstuma ele diria para corremos também este risco e fazermos do bem e da justiça nossas bandeiras de luta.
Certo é que a morte não pode calar a voz dos profetas, pois suas palavras e ações quando preservadas são instrumentos de ressureição todas as vezes que lembradas e aplicadas. Por isso, quando falarem de missão integral, justiça social, protestantismo e política no Brasil ou na América Latina, ele estará entre nós.

6 comentários:

  1. Simplesmente algo lamentável... quanto filhos sonham em ter um pai como o Robinson Cavalcanti -principalmente os seminaristas - mas foi-se o homem no entanto ficam suas obras, lutas e memorias...

    ResponderExcluir
  2. Realmente Fernando, lamentável... um lamento que deve ser materializado em práticas a partir das reflexões deste importante militante da missão integral

    abração

    ResponderExcluir
  3. Caro Kenner,

    Paz e Bem!

    Me considero influenciado pelas reflexões de Dom Robinson Calvalcante. Estou chocado até agora pela perda trágica do grande representante da Missão Integral. Oremos pela comunidade anglicana pastoreada por ele e, também pelo Eduardo, seu enteado. Não consigo imaginar o que está passando pela cabeça desse rapaz após a passagem dos efeitos das drogas. Neste momento clamemos por: misericórdia, graça, amor...

    Um grande abraço,

    M.O.O.
    Rio de Janeiro - RJ

    ResponderExcluir
  4. Olá Marcelo,

    obrigado por tua contribuição. Realmente é chocante. A missão integral recebeu um duro golpe... A tríade citada no seu comentário, sempre defendida também por Cavalcanti, deve ser nossos óculos na interpretação e tomada de posição sobre o caso.

    Kenner Terra

    ResponderExcluir
  5. Orar pelo enteado? Para mim soa como hipocrisia. Esse indivíduo sem caráter foi recebido numa casa como filho e ESCOLHEU ser um monstro.
    É um risco que se corre por assumir o papel de pai e mãe para um estranho, filho de estranhos.
    O momento não seria de pedir oração por esse indivíduo e sim pressionar o Congresso a trabalhar por uma reforma no nosso vergonhoso Código Penal, que protege os criminosos e trata a vida humana, o direito à vida como algo sem valor.

    ResponderExcluir
  6. Quem conheceu Dom Robinson como aluno, ovelha, amigo ou nas três esferas, certamente se contagiou com sua árdua militância contra a corrupção e violência que colocavam no prelo do dia a dia de nosso passado, a injustiça que se condensa nos meandros de nosso presente. Seu discurso e vida nos estimulam fazer uma estreita relação entre este quadro e o papel da igreja. Sua obra, que é mais que literária, encoraja-nos ao comprometimento com uma teologia que exige um evangelho integral com forte fundamentação bíblica de missões e prática de piedade que resultem no estabelecimento do reino do Senhor; como ele mesmo escreveu: “... afim de que o reino de Deus se manifeste mais plenamente em nossa sociedade” (Cavalcanti, 2002, p.278).

    O sentimento que nasce é de que a Igreja de Cristo perde um bispo e ganha um mártir. Um exemplo de “vaso de honra” (Rm 9:21) usado pelo Grande Oleiro para apontar a infâmia de uma geração perversa e conclamá-la ao arrependimento e regeneração em Cristo. Dom Robinson deixa mais que um legado episcopal, deixa-nos a forte convicção de termos conhecido, em nosso tempo, um legítimo exemplar de sacerdócio profético. Talvez para os que o conheciam à distância, seja mais fácil dizer que foi um cientista político que racionalizou a fé para crer com a razão, mas para nós, “domésticos da fé” (Gal 6:10), será impraticável, falar do mover de Deus no Brasil e não citá-lo como atalaia da verdade.

    ResponderExcluir