quinta-feira, 1 de março de 2012

Os/As biblistas estão órfãos/ãs: Prof. Milton Schwantes faleceu!


Apaguem as estrelas por um instante. Silenciem os pássaros. Não deixem que a fragrância das rosas, por um momento, alcance o olfato dos amantes. Deitem o sol no fundo do caos e deixem a luz da lua, somente ela, no lúgubre sopro, ao lado de Vênus, brilhar no céu escuro. Parem as ondas do mar e digam a ele que se cale, pelo menos agora. Os/As biblistas estão órfãos/ãs: Prof. Milton Schwantes faleceu!

Mais do que mestre, Milton Schwantes era um pai, que com as palavras confortava, animava (alma), incomodava e nos tirava da zona de conforto. Ouvi-lo era como um delicioso banquete. Suas utopias nos inebriavam, e como adictos voltávamos vividamente às tentações de seus discursos. Cada aula era uma experiência religiosa, extática, envolvente e transformadora. Sua erudição simples tornava-o uma raridade. Isso, eis aí a expressão mais adequada: “raridade”. O mundo das palavras ficou mais frívolo, comum, simplista... Com menos sentido!

Sua sensibilidade era impressionante. Um dia, quando estava apreensivo na espera da entrevista para o ingresso no mestrado, sentado numa mesa perto das salas, onde ficava a banca dos doutores avaliadores, vi no fundo do corredor um senhor de suspensório, com uma bolsa marrom; era o prof. Milton. Ele sentou-se, perguntou de onde era e de que denominação. Quando falei que era capixaba e da Assembleia de Deus, logo se alegrou e disse como se preocupava com a formação de biblistas no mundo pentecostal. Quando entrei na sala, acreditem, era ele um dos meus examinadores. Quando me viu, logo fez vários elogios, mostrando como meu projeto era importante. Ele nem se quer me conhecia direito, mas sua preocupação com a divulgação dos estudos bíblicos em diferentes contextos levou-o a essa tomada de partido. Ele não era um mercenário da leitura popular ou da teologia que privilegia os pobres, como os que ficam ricos falando de opressão e teologia da libertação. Pelo contrário, fez uma escolha séria e a parti dessa opção gerenciou todos os seus esforços. O defensor dos excluídos não se maravilhava com a elite (teológica ou de qualquer outra espécie), mas preferia ajudar um jovem pentecostal na caminhada ao lado de sua comunidade.

Chega, não vou escrever nada sobre ele e nem o que representou e representa para a teologia e pesquisas bíblicas, sua vida e história falam por si. Resta-me somente o choro e o silêncio.

Adeus professor-amigo.  Que os braços da Vida Eterna carreguem-te com carinho para o lugar onde não há mais injustiças, desigualdades e negação da vida, que contra as quais sempre lutaste!

Que Deus console esposa, filhos, amigos/as e familiares do nosso eterno professor!                 

7 comentários:

  1. ah sim! eu tbém que fui aluna aprendiz pra sempre dele to assim meio perdida hj procurando palavrinhas por aqui e ali & achei seu texto... agradeço! nancy cardoso

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  2. Olá Nancy,

    se pudesse rescreveria este texto toda hora; é a vontade que tenho quando o leio. Foi uma tentativa, mas sempre faltará alguma coisa a dizer ou uma frase bonita para escrever. Por isso, vamos todos escrever um pouquinho de palavrinhas... quem sabe isso nos acalme um pouco...

    abração

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  3. é, se Deus criou as palavras pra ver as pessoas se atrapalharem com elas, como disse o filósofo, o Milton fugiu da regra. Quanto à nós, sequer achamos palavras... P. Zeca

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  4. P. Zeca,

    é verdade... sequer achamos...

    abraço

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  5. Caro Kenner,

    "Estamos ficando órfãos!" Essa tem sido a minha reflexão e apreensão nesses últimos dias. Não conhecia pessoalmente o professor Schwantes, mas suas obras são bem propagadas. Chamou-me atenção essa sua sentença: "Ele não era um mercenário da leitura popular ou da teologia que privilegia os pobres, como os que ficam ricos falando de opressão e teologia da libertação. Pelo contrário, fez uma escolha séria e a parti dessa opção gerenciou todos os seus esforços. O defensor dos excluídos não se maravilhava com a elite (teológica ou de qualquer outra espécie), mas preferia ajudar um jovem pentecostal na caminhada ao lado de sua comunidade". Você me fez lembrar da célebre frase de um artista carnavalesco maranhense, que também se foi: "o pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria são os intelectuais”. Esta frase tem um significado ideológico e político estarrecedor. Quem entra na trincheira de denunciar a opressão aos pobres, corre o sério risco de se corromper e achar o caminho fácil de um enriquecimento completamente sórdido e ilícito. Ficar rico falando dos pobres é vergonhoso, desumano e pecaminoso!
    O Prof. Milton Schwantes não era esse mercenário, como você relata, mas um erudito optou lutar numa trincheira nada confortável. Então podemos, mesmo sem conhecê-lo, sentir a dor de um órfão. Caro Kenner, está cada vez mais raro ver alguém que trate os excluídos de maneira idônea e de "corpo e alma".

    Com lamentação na alma,

    Um consolador abraço!

    M.O.O.
    Rio de Janeiro - RJ

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  6. Olá meu irmão Marcelo,

    Obrigado por tua bela contribuição. Eu poderia até mesmo colocar este comentário no corpo do texto, pois abriria ainda mais suas teias significantes e dar-lhe-ia mais beleza.
    Sim, eu conheci pessoalmente o Milton e essa experiência que relatei foi uma das muitas que presenciei, as quais revelavam exatamente como ele era uma raridade ("está cada vez mais raro ver alguém que trate os excluídos de maneira idônea e de "corpo e alma"). Para termos uma ideia, ao ver seus livros com preços altíssimos em uma famosa editora de obras teológicas, tirou-os de lá, mesmo que esta instituição seja o sonho de consumo de qualquer autor de textos teológicos, e os editou em uma editora popular para serem vendidos por 5 ou 6 reais. Quando em uma conversa com ele, disse-me: “com esses preços os pobres não poderão ler meus livros... Vou reeditar!

    Obrigado pelas palavras de consolo.

    Grande abraço

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  7. minha eterna gratidão ao professor milton, e um grande privilégio nos momentos que estive lado a lado com este grande mestre e cristão na metodista. sentirei muitas saudades.
    Leandro Formicki.

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