quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ué, mordaça gospel?



Nestes últimos meses – falar em meses é eufemismo – estou acompanhando a participação das bancadas evangélicas, ladeadas por pastores, em discussões ferrenhas sobre temas como PL 122, aborto, união estável homoafetiva e agora sobre uma declaração do ministro Gilberto Carvalho, no Fórum Social temático. Antes de qualquer coisa, quero dizer que “eu não aceito ser representado por pessoas tais como sua excelência senador Magno Malta e muito menos pelo Pr. Silas Malafaia”. Então, quando eles se pronunciam como representes da “classe” evangélica, estão mentindo, porque não me representam e a muitos outros também não.

Senador Magno Malta que me perdoe, mas as declarações do ministro Gilberto Carvalho são verdadeiras! Realmente as classes por ele citadas são transpassadas pelos evangélicos, e os pastores que falam na TV influenciam-nos em muitos temas. Ele não mentiu ao dizer que esses influentes pregadores televisivos são teológico e politicamente conservadores. E mais, o ministro tem todo o direito de falar o que acha sobre nós, não é isso que queremos em relação aos homossexuais? Não temos medo da “mordaça gay”? Ora, desejamos uma “mordaça gospel”? Não queremos falar do inferno, do pecado do homossexualismo, de 1 Co 6,10? Eles também devem ter o direito de criticar; não é a primeira vez que os cristãos são criticados e nem será a última. O evangelho não precisa de pessoas cuspindo saliva, com sofismas, em plenárias, para defendê-lo. Quer ser um representante do movimento de Cristo no legislativo? Defenda os pobres; condene as relações antiéticas dos partidos; denuncie os abusos salariais e regalias de senadores e deputados; denuncie os pastores que vendem voto; alie-se não por desejar ou prever mais votos, mas simplesmente por encontrar possibilidades de realização dos interesses do povo com tal aliança, ou seja, torne-se naquilo que não é hoje a realidade da política brasileira.

Precisamos ser coerentes, a maioria das críticas ao mundo cristão em geral nós mesmos deveríamos fazê-las, pois temos entre nós muitos politiqueiros, negociadores da fé, mentirosos, hipócritas, líderes que usam o púlpito para favorecerem políticos em troca de benefícios e status, e que até defendem causas não por desejarem o bem do Reino, mas para marcarem espaço e receberem apoio dos grupos cujas opiniões são as mesmas; não é verdade senador Magno Malta, deputado Marco Feliciano e senhor Pr. Malafaia?

Em momento algum o ministro disse que os evangélicos são insignificantes, que não tiram drogados das ruas ou não fazem nada pela nação. O que ele expôs, e muitos outros evangélicos/protestantes e cristãos em geral concordam, é que o conservadorismo de alguns líderes acaba influenciando uma grande massa. Isso é a pura verdade! O problema não é ser conservador, o crime é vender a imagem de que todos no mundo cristão o são! Vossa excelência Magno Malta, a critica não foi feita ao trabalho social dos evangélicos, mas à inflexibilidade de alguns setores da Igreja.

Como cristãos, não devemos exigir o pedido de perdão, caso seja necessário, dos que nos ofendem. Que evangelho Magno Malta e os demais políticos que aderiram a essa causa querem defender? Acho que a melhor pergunta deveria ser: a quem querem agradar? E o que querem ganhar? Na fala desses líderes, parece-me que o mundo evangélico se tornou um grande exercito ou facção organizada, que se levantará ferozmente contra todos que tocarem em seus membros. Senador Magno Malta e demais políticos, o discurso de Jesus não exige o pedido de desculpas para os que batem na nossa face, e nem requer explicações daqueles que nos exigem andar uma milha.

Sim, temos crescido e somos muitos, mas isso não nos dá o direito de ameaçarmos os políticos (ou qualquer pessoa) que não acreditam nas posições evangélicas, ou melhor, de algumas posições de alguns mais conservadores do mundo evangélico. Sempre é a mesma coisa, quando algo desagrada essa ala: “cuidado fulano, somos tantos... cuidado fulana, podemos eleger quantos quisermos...”. Como assim, cristã fazendo ameaças? Isso me faz lembra tempos tenebrosos do Cristianismo!

O problema é que essa turma fica caçando temas periféricos para agradar uma ala dos evangélicos. São vampiros em busca de sangue novo! Depois do discurso desses, a sensação é que o “mundo cristão foi defendido”! “Oremos e votemos nesses apologetas”, diriam os telespectadores fiéis a eles.

Eu tenho a sensação que esse tipo de postura agressiva mais atrapalha do que promove o Reino, pois cria uma imagem de intolerância, que infelizmente não é enganosa em alguns casos. No entanto, no fundo, parece-me que eles querem mesmo é agradar e garantir o pão de cada dia, que não é barato, com esses temas e posturas.

8 comentários:

  1. Kenner, a Paz de Cristo. Convido você, quando puder, a ler essa artigo, publicado em nosso blog http://www.vosbi.blogspot.com/2012/02/perdao-foi-feito-pra-gente-pedir.html. Abraço.

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  2. Olá Francikley,

    obrigado pela indicação. Lerei com prazer.

    abraço

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  3. pra muita gente tem esses caras como super-herois gospeis em defesa da fé...rsrsrsrs. porém há uma diferença muito grande entre o verbo defender e o verbo defecar. essa turma defeca na fé e ganha voto por isso, e tudo para grandeza do reino. (reino de quem, mesmo?) mas depois do apocalipse a coisa vai melhora....

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    1. Olá Fernando,

      muito bom encontrar-te aqui novamente. Eh, uma pena, também acho que só um apoteótico fim imediato para mudar essas coisas...rsrsr

      abração

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  4. Amado e nobre Rev. Kenner, parabéns pela lucidez do seu texto.Deus lhe continue abençoando.Abraços.Pr.Benhur Castelo

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    1. Grande Reverendo Benhur!!

      Obrigado por tua participação e comentário.

      Grande abraço

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  5. Caro Kenner,

    É preocupante a postura de certas lideranças evangélicas de fazer um tema moral uma plataforma unilateral e política, pensando nos dividendos eleitoreiros que terão. A verdade é que ninguém discutiu ainda com sobriedade e clareza a homofobia e o aborto e suas implicações.

    Parabéns pela sua lucidez!

    Um abraço,

    M.O.O.
    Rio de Janeiro - RJ

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  6. Olá Marcelo,
    Obrigado pela contribuição na reflexão deste tema.
    Você está corretíssimo quando indica a falta de sobriedade e clareza nas discussões sobre esses assuntos. Eu até proponho que abramos frentes de discussões sobre o assunto, com maior equilíbrio, levando em consideração alguns detalhes, não para simples e rápidas acusações e nem aceitação ingênua, mas abertas ao diálogo sensível.

    abraço

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