Desde Benjamin
H. Irwin, C. Parham, Seymour e outros, a grande reivindicação pentecostal da
leitura bíblica em geral e de Atos em especial se estabelece na reexperiência
da experiência das primeiras comunidades cristãs. Entre esses e movimentos
corolários, a ação do Espírito, visibilizada tanto pelo novo nascimento quanto
pelos dons e sinais, é fenomenologicamente revivenciada na contemporaneidade.
Com Parham, por exemplo, afirma-se a inter-relação estabelecida na tríade
“experiência vivida antes do texto”, “experiência presente no texto” e a
“experiência estabelecida e observada hoje nas comunidades pentecostais”.
Howard M. Ervin, discutindo sobre a relação entre o saber sensorial e
racionalista, afirma que “quando um leitor é confrontado pelo Espírito através
da mesma experiência dos apóstolos, ele pode compreender melhor o testemunho
apostólico”. Por isso, “esse fenômeno é a pneumática continuação entre os
leitores de hoje e a fé apostólica comunicada na Bíblia” (“Hermeneutics: A
Pentecostal Option”, in: Pneuma 3/2). Esse autor defende ser a experiência no
Espírito o lugar de encontro entre passado e presente, histórico e vivencial.
Assim,
os sinais, glossolalia, a pregação da realidade dos milagres etc. contrariaram
a Modernidade racionalista e iluminista, porque criaram espaços discursivos
para a reexperiência sobrenatural na comunidade, considerada igual à fundante,
tornando o passado realidade presente. Conseguintemente, o Pentecostalismo
apresentou-se como um grito contra o cessacionismo e criticismo, os quais são
filhos do mesmo racionalismo moderno. Com isso, entendemos a afirmação de
Margaret M. Poloma: “o Pentecostalismo é um antropológico protesto contra a
Modernidade porque propõe uma mediação para o encontro com o sobrenatural”.
Contudo, não é totalmente “pós-moderno”, pois preserva as metanarrativas de
salvação, verificação dos milagres, usa o termo “evidência” (linguagem das
ciências modernas) e preserva afirmações dogmáticas. No entanto, mesmo surgindo
na Modernidade e sendo sua linguagem mais ou menos científica, o
Pentecostalismo abre a porta para a irrupção sobrenatural diagnosticada na
experiência/reexperiência dos carismas, os quais não se enquadravam (enquadram)
no logocentrismo científico dos séculos em torno do seu surgimento. Essa é a
razão de alguns autores qualificarem-no como “paramoderno” (K. Archer). Na
questão hermenêutica, com sua perspectiva ahistórica (porque afirma ser suas
experiências atuais as mesmas das comunidades cristãs antigas), os pentecostais
fundem as imagens do texto e o presente, reconhecem-se na Bíblia, encontram a
si mesmos nas narrativas e, naturalmente, reivindicam continuidade entre comunidades
das origens e a fé vivenciada carismaticamente nas igrejas atuais. Em termos
epistemológicos, isso rompeu com os pressupostos dos dois horizontes
metodológicos do protestantismo dos sécs. XVII-XIX:
cessacionista/fundamentalista e historicista/crítico
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